Apesar da má reputação, essas aves desempenham um papel crucial na manutenção dos ecossistemas.
Na África, por exemplo, conservacionistas trabalham para mudar a percepção pública sobre elas, e os motivos são convincentes.
Um estudo da BirdLife International revelou que os abutres geram um impressionante valor de US$ 1,8 bilhão por ano para os ecossistemas do sul da África, graças ao seu trabalho de 'faxineiros naturais'.
Isso porque, quando um animal morre, um bando de abutres é capaz devorar a carcaça em poucas horas.
Com isso, eles contribuem para a redução da proliferação de doenças perigosas (antraz e botulismo), limitando a presença de pragas como ratos e cães selvagens.
Além disso, o estômago superácido dos abutres é capaz de neutralizar toxinas letais que seriam fatais para outros animais, agindo como um verdadeiro filtro biológico.
Mas sua importância vai além da limpeza ambiental. Abutres também ajudam no combate ao crime (é isso mesmo).
Guardas florestais usam os abutre como 'vigias', já que sua presença em um local pode indicar carcaças deixadas por caçadores ilegais.
Em regiões rurais, eles ainda auxiliam fazendeiros a encontrar animais mortos ou doentes, funcionando como um 'sistema de prevenção de desastres'.
Os abutres africanos enfrentam sérias ameaças e estão em risco de extinção, com 7 das 11 espécies já classificadas como vulneráveis ou criticamente ameaçadas pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
Nos últimos 50 anos, algumas populações de abutres chegaram a diminuir quase 100%.
Essas aves são vítimas de envenenamento justamente por caçadores ilegais que não querem ter a presença revelada.
Além disso, essas aves frequentemente morrem ao colidir com linhas de transmissão de energia e até caça ligada a crenças místicas, nas quais partes de seus corpos são usadas em rituais.
Essa situação é agravada pela imagem negativa perpetuada pela cultura popular, como a representação pejorativa dessas aves em filmes hollywoodianos.
Embora muitas pessoas usem os termos 'abutre' e 'urubu' como sinônimos, essas aves pertencem a famílias diferentes e têm características distintas, apesar de compartilharem o hábito de se alimentar de carniça.
Urubus (família Cathartidae) são encontrados apenas nas Américas e se destacam por seu olfato apurado, raro entre aves, que os ajuda a encontrar carcaças mesmo em florestas fechadas.
Já os Abutres (família Accipitridae, a mesma das águias) vivem no Velho Mundo (África, Europa e Ásia) e dependem mais da visão aguçada do que do olfato para caçar.
Além disso, abutres geralmente são maiores que os urubus (alguns com até 120 cm de comprimento e 3 m de envergadura), têm bicos mais robustos e habitam áreas abertas, como savanas.