Artigo

É preciso ter fé sempre

Mas assim que Leão XIV surgiu no balcão da Basílica de São Pedro e suas palavras como pontífice foram apresentadas ao mundo, a desconfiança deu lugar ao alívio e à felicidade

Fumaça branca sobe da chaminé no telhado da Capela Sistina, o que significa que os cardeais elegeram um novo papa durante o conclave de 13 de março de 2013 no Vaticano       -  (crédito: Tiziana FABI / AFP)
Fumaça branca sobe da chaminé no telhado da Capela Sistina, o que significa que os cardeais elegeram um novo papa durante o conclave de 13 de março de 2013 no Vaticano - (crédito: Tiziana FABI / AFP)

Uma fumaça branca saindo de uma pequena chaminé pode ser apenas uma fumaça branca. Mas também pode significar esperança, transformação e, sobretudo, um convite à fé. Cobrir o funeral do papa Francisco e o conclave, na Cidade do Vaticano, foi uma experiência quase numinosa, transcendental. Jamais me esquecerei dos olhares dos fiéis desanuviados pela tristeza enquanto o caixão de Francisco repousava sobre o altar improvisado na Praça de São Pedro, também sob os olhares de alguns dos homens mais poderosos do mundo, que foram a Roma prestar-lhe o último tributo. O silêncio absurdo e ensurdecedor que pairava sobre o Vaticano era entrecortado apenas por um helicóptero da polícia ou pelo som dos pássaros. Depois, a partida do cortejo fúnebre, a multidão em aplausos pelo caminho, a sensação de que a Cidade Eterna tinha ficado órfã.

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Os dias seguintes foram marcados pela espera pelos cardeais, ao saírem das Congregações Gerais. Quase sempre saíam calados, um pesadelo para qualquer jornalista. Com insistência, pude entrevistar alguns dos purpurados, que sinalizaram um desejo de continuidade na sucessão ao Trono de São Pedro. Momentos emocionantes também envolveram as pouco mais de 48 horas de conclave. A Ladainha de Todos os Santos entoada pelos cardeais de dentro da Capela Paulina e ecoada pela Praça de São Pedro. A procissão solene, ao som de Veni Creator ("Vinde, Criador"), até a Capela Sistina, e a voz de cada um dos 133 cardeais prestando o juramento em latim. Depois, o barulho seco das portas da Capela Sistina sendo fechadas e aquele clima de ansiedade entre os fiéis.

A fumaça branca foi precedida pelo badalar insistente dos sinos da Basílica de São Pedro e de todas as igrejas de Roma, em comemoração à escolha do papa. Na praça, a expectativa foi substituída pela alegria e pela euforia, mas também por mais suspense. Durante longos minutos, era impossível saber quem tinha sido eleito no conclave. Quando o protodiácono fez o anúncio, em latim, o nome Prevost se destacou. Um norte-americano que estava ao meu lado, pendurado em uma grade, parecia em êxtase. Em muitos fiéis, a expressão era de assombro, incredulidade. Um papa "gringo"? Mas assim que Leão XIV surgiu no balcão da Basílica de São Pedro e suas palavras como pontífice foram apresentadas ao mundo, a desconfiança deu lugar ao alívio e à felicidade. Era possível ver pessoas se abraçando, como se celebrassem o futuro da Igreja.

Esses 18 dias de cobertura para o Correio Braziliense, o Estado de Minas, a TV Brasília, a TV Alterosa e a Rádio Tupi ficarão para sempre em minha memória. Com o trabalho jornalístico e, ao testemunhar a história, reforcei a minha convicção de que a religação entre o homem e o divino é uma urgência em um mundo açoitado por tantas futilidades, guerras, miséria, ódio e dor. É preciso confiar em algo maior, em uma força que nos una em direção à paz. É preciso ter fé sempre.

postado em 28/05/2025 06:07
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